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TRANSTORNO DISSOCIATIVO DE IDENTIDADE

 

Por Valdir dos Santos Teixeira

 

Dedicatória

Dedico este trabalho ao Dr. MANOEL DE ARAÚJO BARATA, meu analista , que , a partir de 1972 , me proporcionou  a oportunidade de conhecer e mergulhar no mundo fantástico da Psicanálise.

Agradecimentos

Agradeço ao DR. SIGMUND FREUD, que , graças à sua genialidade , enfatizou a importância de tornar  consciente  o inconsciente . 

 

Citação

“ Há muito mais entre o Céu e a Terra do que sonha nossa vã filosofia . “          

                                       SHAKESPEARE                    

 

 

INTRODUÇÃO

 

Neste trabalho, vamos  desenvolver  o conceito de ser a complexa psique humana, metaforicamente,  um policrômico mosaico em que cada partícula representa uma faixa consciencial em matizes de alegrias e dores, de luzes e sombras , em sua eterna viagem a caminho da Luz.  

Esta abordagem é relevante por ser o Transtorno Dissociativo de Identidade , em graus e temporalidade variados,  mais comum na sociedade  atual do que se percebe.

Como hipótese, partimos do princípio de que somos hoje o resultado do que vivenciamos, aprendemos e realizamos ontem, anteontem …. em contínuo aprendizado no Planeta - Escola que é a Terra.

Como objetivo, buscaremos, neste trabalho, demonstrar que o rio principal é a Psicanálise mas que outros afluentes , outras ferramentas terapêuticas,  devem ser recepcionadas  desde que leve à cura do paciente .

Trata-se de tema polêmico e que precisa de maiores aprofundamentos pelos doutos pesquisadores da alma humana . 

Poderia esta monografia versar sobre temas mais decodificados  e com vasta bibliografia a respeito . 

Estou tranquilo , no entanto ,  quanto ao tema , por intuir serem os psicanalistas deste conceituado Instituto dotados de  “mindset “ aberto e receptivo ao mundo das idéias .

Na primeira parte do trabalho, abordaremos conceitos. Na segunda parte, vamos  focar  em  fatos . 

Para atingir esses objetivos, a metodologia empregada baseia-se em pesquisas bibliográficas e de campo, nos atendimentos de consultório. 

 

Capítulo 1 - Conceitos

Representa o Transtorno Dissociativo de Identidade  uma mudança no padrão prévio de personalidade característico do indivíduo .

A personalidade da pessoa vinha com determinado perfil de traços e de  caráter e subitamente apresenta alterações nesse padrão mudando as reaçṍes e  comportamentos .

“Os indivíduos com transtorno Dissociativo de Identidade podem mencionar a sensação de que, de repente, se transformaram em observadores  despersonalizados  do seu próprio discurso e das suas ações .  

Também podem se sentir impotentes para detê-los .

Às vezes , ouvem vozes que ninguém mais é capaz de ouvir .

As emoções fortes , os impulsos e, inclusive, a fala podem aparecer de repente , sem um sentido de controle ou de pertencimento pessoal ( sentido de identidade ).

As atitudes, as perspectivas e as preferência pessoais ( em relação à comida, às atividades  ou à  forma de se vestir, por exemplo ) podem mudar de repente e,  em seguida , sofrer outra mudança de novo. Podem sentir seus  corpos transformados .

Apesar da maioria desses sintomas serem subjetivos são perceptíveis as transformações.” ( https://amentemaravilhosa.com.br  - acesso em novembro de 2019 ).

Quem sofre de Transtorno Dissociativo de Identidade  ou de Personalidade,  chamado antigamente de Dupla Personalidade,  costuma apresentar as seguintes características comportamentais  : automutilação, autodestrutividade, impulsividade, ansiedade, despersonalização,     mudança de humor, consciência alterada , depressão , flashback, amnésia ou perda de consciência.

“ Pode-se definir o TDI como uma condição, um processo mental  dissociativo responsável pela falta de conexão ao que a pessoa traz em sua personalidade  “ real “.

O TDI tem como sintomas mais frequentes os desmaios, a pseudo convulsão e a amnésia . 

É comum as pessoas que sofrem deste transtorno não se lembrarem de suas ações enquanto outra pessoa estiver no controle .

A psicoterapia é a intervenção mais utilizada para estabilizar os pacientes e garantir sua segurança . 

O próximo passo é a avaliação das experiências  traumáticas, conhecer  as diferentes personalidades  e o que motiva o aparecimento de tais  identidades.

A literatura médica não  chegou a um consenso acerca dos tratamentos  farmacológicos . “  ( Deneurosaber.com.br - acesso em dezembro de 2019 ).

 Uma das causas pode ser um grande trauma sofrido pela pessoa ainda na infância , abusos sexuais, físicos ou psíquicos .

Para a pessoa receber o diagnóstico de alterações de personalidade, o transtorno deve causar sofrimento ou prejuízo significativo no funcionamento social, ocupacional ou em outras áreas importantes .

É necessário, também, que essa condição não possa ser melhor explicada  por abuso de substâncias , por crises epilépticas, pela normal imaginação da criança ou por práticas religiosas .

“ Na maioria dos casos , verifica-se amnésia dissociativa : incapacidade de recordar eventos diários, informações pessoais importantes  ou eventos traumáticos de uma forma que não pode  ser explicada pelo esquecimento normal .

Em muitos casos, a condição está associada a outras perturbações  , como  a perturbação de personalidade limítrofe, de “stress“ pós-traumático, depressão, perturbação por abuso de substâncias, autolesão ou ansiedade .

Estima-se que afete cerca de 2% da  da população em geral e cerca de 3%  das pessoas hospitalizadas  com problemas mentais na Europa e América do Norte . O diagnóstico é cerca de seis vezes mais frequentes em mulheres do que em homens .

O número de casos aumentou significativamente  durante a segunda metade  do século XX , assim como a média do número de identidade das pessoas afetadas . “ ( https: pt.m.wikipeia.org -acesso em  dezembro de 2019 )

 

CAPÍTULO 2 - DIAGNÓSTICO

O TDI é controverso tanto na medicina ( CID 10 - F44.81 ) como no meio jurídico, onde, por vezes, é usado como defesa em julgamentos para alegar insanidade mental .

É considerável o debate  sobre a validade da condição enquanto diagnóstico  clínico .

Diferentemente de outras categorizações  de diagnósticos, esta permanece muito objetiva, no que se refere à evidências para descrição do transtorno , o que o torna  subjetivo bem como seu diagnóstico .

“A compreensão da experiência dissociativa  e das origens dos transtornos dissociativos é difícil devido à complexidade  da questão . As contradições da classificação são decorrentes  das dificuldades de se construir uma teoria da mente abrangente que unifique neurobiologia e psicodinâmica .

Os autores discutem as bases conceituais da dissociação  com ênfase na integração  entre neurobiologia e fenomenologia .

O papel do aprendizado é amplamente discutido, assim como as teorias  atuais de neo dissociação, trauma e sociocognitivismo para os transtornos dissociativos .

O estudo dos fenômenos dissociativos  e transtornos mentais  associados à dissociação é um dos grandes desafios da psiquiatria .

Muito da controvérsia da área se deve à formação científica distinta dos cientistas, cujos argumentos teóricos , por vezes, beiram discussões  ideológicas.

O próprio termo  “ dissociação “ pode  ser entendido de diversas formas e dar margem a múltiplas  interpretações,  dependendo do contexto  de seu uso .

Cardeña agrupa experiências dissociativas em um Domínio da Dissociação baseado nos diferentes usos do termo .

Dissociação ou ( ou a desagregação de Pierre Janet ) implica que dois ou mais processos mentais não estão associados ou integrados .  

Sob o ponto de vista  do estudo da personalidade  e do campo da psicologia clínica , o Domínio pode ser abrangido sob três perspectivas diferentes : 1 ) para caracterizar os sistemas cognitivos não acessados conscientemente  e/ou não integrados dentro da memória, identidade  e volição ( conscientes ) do indivíduo;  2 ) como representação de alterações da consciência do indivíduo , em situações  em que certos aspectos do Eu e do ambiente se desconectam ;  3) como mecanismo de defesa  associado a fenômenos variados, tais como amnésia   psicogênica ,  eliminação  de sofrimento físico ou emocional e não integração crônica  da personalidade, como no transtorno de personalidade múltipla . “ ( www.scielo.br - acesso em  janeiro de 2020 ) .

Atualmente, no DSM  IV , há a classificação de transtorno de dissociativo de identidade.  O  CID  atual continua  a listar a condição  como do transtorno de múltiplas personalidades . 

Os principais pontos onde não há  consenso são :

                     1 - se o transtorno é algo real ou modismo ;

                     2 - se real, se a aparência de múltiplas personalidades é real ou ilusória ;

                     3 - se real, como pode ser definido em termos psicanalíticos                           

                     4 - se pode ou não ser curado ;

                     5 - quem deveria  definir primeiramente a experi6encia, os terapeutas ou aqueles  que acreditam ter .

A Dissociação é um processo mental complexo que promove aos indivíduos um mecanismo que os possibilita enfrentar  situações traumáticas e/ou dolorosas . É caracterizada pela  desintegração do Ego .

A integração do Ego , sendo o Ego o centro da personalidade, pode ser definido como a habilidade  de um indivíduo em incorporar à sua percepção, de forma bem sucedida, eventos ou experiências externas e então lidar  com elas  consistentemente através de eventos ou situações sociais .

Alguém incapaz disso , pode passar por uma desregulagem emocional, bem como um potencial colapso do Ego. Tal estado de desregulagem emocional é em alguns casos, tão intenso a ponto de precipitar uma desintegração do Ego.

Quem sofre uma  dissociação não se desliga totalmente da realidade . Quando um “ alter “ não pode lidar  com uma situação particularmente  estressante, a consciência  do indivíduo  acredita estar dando à outra personalidade, que criou ou aflorou do inconsciente profundo, a chance de eliminar a causa da situação .

A dissociação não é necessariamente  sociopática ou compulsiva . O estresse  biológico causado pelo trauma original é aliviado pelo afastamento parcial da resposta emocional , que faz com que o mesencéfalo aprenda a dissociar  como forma  de reação .

As manifestações comuns incluem instabilidade afetiva,  dificuldade no controle dos impulsos, episódios de  agressividade ou raiva em nítida desproporção com estímulos desencadeantes, acentuada  apatia que aparece de repente , certa desconfiança, podendo chegar à paranóia em casos mais graves .

No  TDI , memórias, comportamentos , atitudes  , percepção de idade, tudo pode se alternar. Cada personalidade múltipla pode ter um nome, histórico pessoal e características distintas .

Há uma interferência no Ego autônomo, surgindo outras personalidades  múltiplas e subpersonalidades .

Dentre as várias hipóteses , pode ser um mecanismo de defesa  do Ego na tentativa de lidar com experiências traumáticas . 

A criança ferida se dissocia , divide-se em partes, uma parte suporta  o abuso e fica e fica  com os impactos  emocionais e físicos , outra parte  continua sua exist6encia ou uma ou mais personalidades  podem surgir.

Essa dissociação  é que permite à criança  seguir em frente , porém, nem todo mundo que sofre  abuso infantil ou qualquer outro trauma de  grande  magnitude desenvolve esse transtorno .

Ao refletir sobre pessoas com TDI  como um todo , Melanie Klein  diz:    “o que não tivemos quando criança é um pai ou mãe metaforicamente  segurando você  e o ajudando a  aprender a lidar melhor com a vida de maneira geraL . Crianças que desenvolvem laços seguros conseguem lidar melhor com a vida de maneira geral . “ 

Wendy Johnson , professor de psicologia da  Universidade de Edimburgo , afirma que “ as pessoas com TDI frequentemente dizem se sentir muito superficiais e de certa forma elas o são , porque a essência  de quem você é  fica preso do lado de dentro . “

Aquarone argumenta  que “ pessoas que ouvem vozes  de diferentes partes de si  podem ser  entendidas como esquizofrênicas . Pessoas que alternam entre partes animadas e depressivas  podem ser diagnosticadas  como bipolares. Pessoas  cujos estados emocionais parecem mudar drasticamente  podem ser diagnosticadas  com transtorno de personalidade borderline .”

TDI é um diagnóstico controverso  e está listado nos principais manuais psiquiátricos ao redor do mundo .

Acredita-se que cerca de 2% da população  sofre desse transtorno, praticamente a mesma taxa da esquizofrenia . Ainda assim há relutância entre psiquiatras  para  aceitá-lo .

Há também céticos que acham que, talvez, os pacientes estejam fingindo identidades diferentes  e que uma tendência  à fantasia explicaria o transtorno como um todo .

É curiosa essa ilação  pois teriam de ser mais criativos que os melhores escritores . Apresentam , muitas vezes ,cultura enciclopédica em desacordo com seu nível cultural atual, falando línguas variadas , que desconhece,  apresentando relatos , usos e costumes de outras épocas e demonstram  linguagem corporal, cinestésica e emocional de fazer inveja aos mais exímios atores e atrizes .

Por derradeiro, imagens de ressonância magnética  do cérebro apoiam a idéia de que as pessoa com TDI não estão fingindo . 

“A psicanálise tenta reconciliar pessoas com seus conflitos , utilizando  técnicas que  possam fazer a integração  dessas personagens . A pessoa precisa reconhecer  que aquilo é reprodução  dela, é parte dela  . “, explica Christian Dunker ,  psicanalista . 

A Psicanálise é a cereja do bolo, mas e o bolo vai ficar esquecido ? 

CAPÍTULO 3 - COMPLEXOS AUTÔNOMOS

Em certas situações, pessoas e existem   que apresentam  um fenômeno psíquico no qual a personalidade primária ou  original  é substituída por personalidades diferentes  como se elas passassem  a ser outras pessoas . Na verdade , se transformam mesmo em outras pessoa  por períodos variados de tempo .

Essas novas personalidades apresentam gostos , inclinações , vocações  e atitudes em completo desacordo com a personalidade primária .

No  fenômeno psicopatológico da personalidade múltipla , encontramos a emersão de uma ou várias personalidades  que se formaram  no inconsciente como complexos autônomos e se que se apossam  do complexo do Ego, promovendo uma mudança no comportamento.

Um complexo autônomo é  aquele que sofreu uma dissociação tão intensa que a própria pessoa  a sente  como se fosse estranha a  si mesma .

Esse tipo de transtorno pode se apresentar na base do animismo ou fenômeno mediúnico em que o complexo autônomo  se apresenta como um espírito embora possa se um conteúdo psíquico do próprio médium

O transtorno da personalidade múltipla, no entanto, pode acontecer, também,  com a  emersão ou intrusão de uma ou várias personalidades de existências passadas na existência atual .

Tal fato  pode se dar por uma disposição fisiopsíquica ou por ação da presença  de outro personagem da existência anterior, seja encarnada ou desencarnada , nas circunstâncias físicas ou psíquicas  da pessoa que apresenta o transtorno .

Nesse caso,  a presença do personagem em questão induz uma regressão da pessoa à existência anterior , causando emersão da personalidade reprimida no inconsciente pretérito , onde estão armazenadas , como complexos autônomos .

Tanto é que podem se apossar do Ego, submetendo-o a um modo de atuação diferente do atual , como qualquer complexo .

Outra forma de personalidade múltipla  é o ”  condomínio espiritual “, como o chama Hermínio de Miranda , ou seja, a intervenção de uma entidade espiritual na mente de um encarnado .

É um típico fenômeno de possessão . Observe-se que  se trata  de uma ligação  entre duas mentes, a desencarnada  e a encarnada , na qual a desencarnada praticamente subjuga a encarnada  e assume o controle .“ último estágio da obsessão “ .  São muitas as possíveis causas .

Pessoalmente tive a felicidade de vivenciar a psicanálise  durante quase três década na condição  de  analisando . Adoro estudar e mergulhar no mundo fantástico do inconsciente .

Pratico  meditação “ mindfulness “ ( atenção plena/autoconhecimento ) há 50 anos . Sou também “ practitioner e master “ em Programação Neurolinguística, hipnoterapeuta, psicoterapeuta reencarnacionista e “coach” espiritual .

Aplico há 9 anos no consultório todas as ferramentas  possíveis  . O importante é o autoconhecimento, o  bem estar do analisando,  o entendimento e superação dos seus problemas . É tornar consciente o inconsciente , conhecer o aparelho psíquico , este mundo fantástico  tão corajosamente pesquisado por Freud.

Considero os psicanalistas , os psicólogos , enfim, todos os psicotepeutas,  verdadeiros estetas da mente e instrutores de alma .

 

CAPÍTULO 4- “CASE” DE SUBPERSONALIDADE 

Certo vizinho, adulto de cerca de 45 anos, e 1,80 metros de altura , teve uma reação fóbica  no elevador. Ficou  branco, amarelo, em pânico , encostou na grade do elevador de forma brusca, ao me ver  entrar com minha cachorrinha de  10 dias de idade . 

Se pudesse teria  pulado no poço, dominado instintivamente pela programação atávica registrada no cérebro reptiliano  de fuga, luta ou congelamento. 

Na anamnese e com a livre associação de ideias, lembrou ter sido mordido quando tinha 5 anos de idade. Quem reagiu , portanto , não foi o adulto , foi a criança ferida.  O filhote foi o gatilho que fez emergir  aquela subpersonalidade, aquela criança traumatizada,  que viu e reviveu cinestesicamente a cena em que um grande cachorro a mordia e não aquela cachorrinha, de hoje,  totalmente inofensiva . 

Através da livre associação de idéias que é hipnoidal e seu aprofundamento , o terapeuta acessa a criança, interpreta  e ressignifica o fato .

A criança, por ter a faculdade crítica ainda em formação, aceita tudo o que lhe é dito e passa a entender  que os cães são amigos e , portanto, confiáveis  e que aquele incidente é raro e não vai ocorrer novamente . 

Como a conversa se dá no subconsciente que não distingue o certo do errado, o real do imaginário, nem passado, presente e futuro, estando tudo no presente , passa a ver por outro ângulo, a entender diferente, logo passa a sentir e agir diferente.

Chancela-se, assim, uma nova crença, uma nova programação e, portanto, novas atitudes mais harmoniosas .

Este fato me lembra o genial Sigmund Freud quando dizia que não tratava adultos, e, sim,  crianças feridas, curada a criança, o adulto ficava curado. 

“ O que dizer da dor que não pode ser dita ? Sem causa ou natureza definíveis , sem possibilidade de compreensão ?  Dor do nada, simplesmente  do vazio de existir , indescritível , incomensurável e que, por isso mesmo ,  chama em vão  a palavra ? Muitos falaram dela,  , para dizê-la, traduzi-la ou minorá-la : tristeza, trevas, sombras sem fim, sol negro , nevoeiro, tempestade em sol sereno, certeza infeliz  , apatia, tédio .

Muitos que a experimentaram de maneira intensa dizem-na indescritível,  dor aguda de ordem não física , cuja natureza e causa são desconhecidas, distúrbio do espírito, misteriosamente recebido, catástrofe .

Qualquer que seja a fonte de informação , todas falam da intensidade do sofrimento quando ela se manifesta de forma aguda .  A inibição  é referida como paralisia , seja motora, afetiva ou intelectual,  a certeza do nada poder fazer .

Ao amanhecer ou ao finalizar o dia,  uma nuvem de  terror    invade a mente do sujeito e lhe transmite o sentimento  de uma fadiga absoluta , o esgotamento total de suas forças.

A impressão é acompanhada , na grande maioria das vezes , de que esse estado será duradouro . O pânico surge  e se dissemina em medo de quase tudo . Medo absurdo de pessoas, coisas, situações insignificantes .

Muitas vezes ouvimos o relato de estranheza, sentimentos de despersonalização , uma confusão de identidade, quando o medo da loucura aparece . (PERES, Urania T. Depressão e Melancolia - pags. 7 a 12 ) 

Não poderia passar  : “ in albis “ a sina de Daniel Schreber , intelectual das melhores lavras, doutor em direito e presidente da Corte de Apelação da Saxônia  . 

            “ Seu irmão mais velho , que sofria de uma psicose evolutiva , suicidou-se com um tiro aos 38 anos de idade . Sua irmã mais nova morreu doente mental.

Aos 42 anos Schreber foi hospitalizado pela primeira vez . Essa crise que durou vários  meses foi qualificada de hipocondria grave .

Em 1893, aos 51 anos , foi nomeado Presidente da Corte de Apelação . Meses depois da nomeação , um segundo desmoronamento anunciou-se , acompanhado por insônias que foram se agravando  e sensações de amolecimento cerebral .  

Depois apareceram idéias de perseguição e de morte iminente , assim como uma extrema sensibilidade ao barulho e à luz.  Mais tarde surgiram alucinações visuais e auditivas . Ele se via morto e decomposto, atingido pela peste e pela lepra, com o corpo submetido a manipulaṍes repugnantes e sofrendo  os mais assustadores tratamentos .  

Essas manifestações o faziam mergulhar por horas a fio num estado de  sideração e de estupor alucinatórios. Schreber chegou  a desejar a morte  e, em várias ocasiões, tentou suicidar-se. Com o tempo, as idéias delirantes coloriram-s de misticismo : relações diretas com Deus e aparições milagrosas  “. ( J.D. NASIO - Os Grandes Casos de Psicose - págs. 44  e 45 ).

Cabe a elaboração de um “ brainstorm “ de como seria o tratamento do Dr. Schreber se estivesse  em 2020  , com a Psicanálise já  bem mais estruturada, com o avanço da Medicina e ante tantas terapias energéticas, fitoterápicas e espirituais existentes .

A Psicanálise  é um rio poderoso , mas  a “ voluntas curandi “ não pode menosprezar os afluentes . É a Psicanálise a cereja do bolo , mas os casos mais complexos tornam indispensável acrescentar todas as ferramentas que possam levar à cura do paciente . 

As terapias holísticas com fundamento em desbloqueios energéticos , aliadas às descobertas  das energias vibracionais , com o advento da Física  Quântica . As técnicas de Desobsessão,  Apometria , PNl,  Terapias de Regressão a Vidas Passadas , Hipnoterapia ,  Meditação Mindfulness , EFT, Barra de Acces, Thetahealing e outras, como coadjuvantes à psicanálise, hoje mais amadurecida,  talvez,  viessem a  impedir que aquela mente brilhante se extinguisse.

São tantas as hipóteses,  a obsessão inconsciente dos irmãos, caso permanecessem próximos a  Schreber , ou  estar acessando alguma vida traumática ,o que poderia  estar causando um descontrole energético e , consequentemente, sua doença .

Hoje, não temos como saber .

 

CAPÍTULO 5 - PERSONALIDADE MÚLTIPLA

                                                                                                                                        

Outro “ case “ diz respeito a uma paciente em profunda depressão repentina . Se recusava a sair do quarto . Não queria falar com ninguém . Mantinha as janelas fechadas . Sentia-se frágil, com fortes tonturas . Como trazê-la ao consultório ?

Utilizei o processo de regressão terapêutica  à distância, ou seja, investigação do inconsciente profundo não presencial . Em casos como esse em que o paciente está impossibilitado de comparecer , alguém , um parente, um amigo ou um sensitivo  deita no divã para acessar um estado profundo  de relaxamento e sintonizar, incorporar uma energia consciencial externa, denominado espírito , ou uma personalidade múltipla, ou seja, um ser que é uma parte sua de outra existência que o próprio paciente tenha vivenciado .

Foi o que ocorreu . Como estava em atendimento de grupo, uma analisanda , mais sensitiva, fez a caridade de relaxar profundamente e entrar no campo vibracional daquela  paciente em crise, dando passagem à manifestação de uma personalidade múltipla .

Manifestou-se uma senhora rica, da nobreza,  que havia sido hospitalizada em um hospício a mando de familiares com o intuito de se apoderar  de seus bens. 

Por ser sensitiva, numa época hostil aos dotados de hipersensibilidade,  ouvia vozes que  poderiam estar vindo de personalidades múltiplas, tentando se manifestar ou de seres extrafísicos ( espíritos ) com motivações as mais variadas 

Os remédios da época a deixavam com fortes tonturas . Ela dizia e repetia ,  “ Eu não sou louca “  e morreu ao se submeter a uma lobotomia .

Estava com seu corpo espiritual , no momento da incorporação , muito inchado e dolorido  . Encontrava-se , ainda, com sua mente cristalizada no hospício onde morrera em 1823, com 30 anos de idade .

Levei 57 minutos conversando, esclarecendo  ressignificando , deixando aquela personalidade múltipla realizar  sua anamnese e catarse . 

Ficou irritada quando lhe sugeri que deveria ser tratada em um hospital espiritual . reação, aliás , compreensível, pois já havia sido enganada . Felizmente, naquele momento, os médicos do espaço devolveram-lhe sua forma original, sem dores nem inchaços , e só, então, quando se viu curada , sentiu confiança em ser conduzida ao novo hospital .

Ao se desligar naquele momento e encaminhada a um hospital espiritual, quando tiver alta,  vai se acoplar novamente à minha paciente por ser uma existência que já  viveu  e, portanto,  faz parte dela, só que , dessa vez, de forma harmoniosa , sem querer  dominar a  “ persona “ atual  .

A crise de depressão profunda passou .         A paciente  retornou ao seu “ status quo ante “, ou seja, sua personalidade atual e reassumiu  o comando da própria vida  .

O fato é recente, e, portanto, passível de constatação, se interessar aos doutos pesquisadores .

Como costuma ser mais fácil prejulgar  para não ter de procurar a verdade real  que muitas vezes conflita com o nosso ego , acomodado e vaidoso, urge informar a eventuais céticos  ser o fato relatado verídico . 

Minha consciência, portanto, está tranquila , visto que não fumo, não bebo, não jogo , não me drogo , sou casado  e não procuro amor fora de casa . Se isso é ser louco ou viajar na ilusão , bendita loucura ou bendita viagem ….

A vivência no  “set  “analítico nos mostra que só a própria pessoa tem o livre arbítrio  para clarear as próprias sombras  . Ninguém muda ninguém  . Pode interpretar , mostrar alternativas , inspirar a pessoa a encontrar o próprio caminho, mas a mudança é conquista pessoal . 

Nos momentos de fragilidade, os recalques , as sombras afloram . Cabe ao psicanalista  ajudar  a analisando , com ética, a tornar consciente o inconsciente , e através do autoconhecimento evitar crises e caminhar pela vida com harmonia e sabedoria . 

 

CONCLUSÃO

Ser plural em relação ao saber nos deixa mais perto do crescimento e da essência das coisas .

Freud nos incentiva ao estudo, prática clínica e ética . Haveria ética em se fechar em circuito egóico, “ só o que eu sei é importante, o que não sei não tem valor ?  “

Como tornar consciente o inconsciente sem levar em consideração os meandros do aparelho psíquico, esse microcosmos ainda tão pouco conhecido.

Não há orquestra sinfônica com um músico só e nem sinfonia com uma nota musical somente .

Mente e corpo são sistêmicos .

Segundo os sábios orientais , os  teosofistas, os esotéricos e pesquisadores outros , o agregado anímico do aparelho psíquico humano abrangeria as seguintes faixas energéticas-conscienciais :

  • corpo físico   -   duplo etérico    -   corpo astral   -    mental inferior   -   mental superior  -    búdico   -   atma  

             A psicanálise é a cereja do bolo , e o bolo vai ficar esquecido ?

        A evolução do conhecimento humano está passando da química para a física e o futuro são as medicinas energéticas, integrativas, holísticas .

         O pensamento é energia, a palavra é energia , portanto, a livre associação de idéias  é comparada a uma  medicina energética  e, é , por isso, que se diz que a palavra cura .

        Todo  psicanalista  que  tem  a  abertura mental de um cientista e a alma da  “ars  curandi “  não pode se dar ao luxo de menosprezar outras hipóteses, outros caminhos, outros ramos do saber humano. O que importa é o bem estar do paciente , a sua cura .

Diz Fernando Pessoa em   “ O guardador de rebanho  “ :

“O mistério das cousas, onde está ele ?

Onde está ele que não aparece pelo menos a mostrar-nos que é mistério ? “

          Termino esta monografia com as palavras de dois Mestres :

Sigmund Freud : “ Não desejo suscitar convicção, desejo estimular o pensamento e derrubar preconceitos  “.

Carl Jung  : “ Aquele que olha  para fora sonha, mas o que olha para dentro desperta “ .

 

 

BIBLIOGRAFIA 

 

URANIA Tourinho Peres - Depressão e Melancolia - Rio de Janeiro - ZAHAR Editores - Edição 2001 - Terceira Edição

J.D. NASIO - Os Grande Casos de Psicose - Rio de Janeiro - ZAHAR Editores - Edição 2010 - Primeira Edição

Transtorno Dissociativo de identidade - [ online ] - Disponível em <  https://amentemaravilhosa.com.br > Acesso em novembro de 2019

Transtorno Dissociativo de Identidade - [ online ] - Disponível em < www.scielo.com  > Acesso em dezembro de 2019 

Transtorno Dissociativo de IdentidadeI - [ online ] - Disponível em < https : pt.m.wikipedia.org > Acesso em janeiro de 2020

MARTINS, Ademir. Escrita criativa: os desafios do ensino superior. São Paulo: Editora Saraiva, 2003.

VIEIRA, Paulo. Conceito de Psicanálise. [Online]. Disponível em: <www. psicanaliseclinica.com/conceito-psicanalise/ >. Acesso em: abr. 2018.

 

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