
QUESTÕES SEXUAIS
Por Valdir Teixeira
Da mesma forma que as neuroses se fortalecem com o tempo, a falta de motivação para a mudança, o início da prática em idade precoce, a frequência exagerada dos atos, a ausência de culpa ou vergonha, os “links” com o uso de drogas são todos fatores que dificultam a superação dos transtornos de natureza sexual.
Nem todos querem sair da zona de conforto, olhar suas sombras, tornar consciente o inconsciente, mudar, porque mudar dói, não percebendo, no entanto que não mudar dói, dói, muito mais….
O querer mudar e procurar exercitar-se mentalmente, ou seja, fazer análise, em qualquer abordagem terapêutica, é o primeiro passo e o primeiro desafio. Ocorre que a pessoa, ao nível consciente, pode querer, porém, se o inconsciente dessa pessoa não quiser, devido a crenças limitantes e programações equivocadas de não merecimento, de autopunição, não haverá adesão, foco, persistência e, consequentemente, o processo terapêutico será sabotado e a terapia será abandonada devido a faltas, atrasos e distrações.
Lembro de uma companheira de grupo, médica, que chegava sempre com atraso de cerca de 40 minutos numa sessão de 50 minutos e dava como justificativa a falta de estacionamento.
O psicanalista ofereceu-lhe uma vaga no prédio, onde a sessão era realizada. Essa analisanda aceitou e “melhorou” sua pontualidade, pois começou a chegar “somente” com 30 minutos de atraso. Não conseguiu descobrir os gatilhos que a levavam a sabotar o tratamento, pois alguns meses depois abandonou a análise.
Segundo a Neurociência, o inconsciente decide cerca de 95% das nossas ações. Por isso, a importância de tornar consciente o inconsciente, aliás um dos principais focos da Psicanálise.
Devido à complexidade da psique humana e aos mecanismos de defesa do ego, mister se faz utilizar todas as ferramentas possíveis, e, com visão multidisciplinar, levar em consideração todos os fatores hereditários, biológicos, genéticos, epigenéticos, psicológicos, sociais e transpessoais envolvidos nos transtornos sexuais.
Menciono três “cases” analisados no meu consultório.
Uma pessoa do sexo feminino, divorciada, com filhos, me relatou na anamnese que seu pai era alcoólatra e mulherengo, causando muito sofrimento na família e, principalmente, na esposa.
A necessidade inconsciente de preservar a imagem do pai para não sentir ódio e sua sombra, a culpa ou cisão afetiva, racionaliza a situação, generalizando a crença limitante de serem todos os homens iguais e, portanto, ser mulherengo seria da natureza do homem. É o seu mecanismo de defesa do ego.
Com essa racionalização preservou a imagem do pai e, em consequência, reforçou essa crença limitante ao se relacionar, inconscientemente, com homens de comportamento semelhante. No entanto, quando namorava alguém fiel, criava inconscientemente situações que o levasse a cometer infidelidade, corroborando, assim, a crença de que todo homem trai as mulheres.
Já que os homens são infiéis e não querendo sofrer como sua mãe, passou, posteriormente, a se relacionar com mulher, na fantasia de que mulher não trai, esquecendo, porém, que homoafetivos também traem.
Quando os bloqueios caírem e entender a realidade, corre o risco de se sentir frustrada, magoada, e passar a não querer se relacionar afetivamente com ninguém, preferindo, como mecanismo de defesa à solidão.
Infelizmente foi residir em outro estado e com a mudança interrompeu o tratamento.
Outro analisando relatou na anamnese haver procurado a terapia devido a dificuldades na relação sexual, tais como ejaculação precoce e impotência ¨coeundi”, instrumental.
Segui o protocolo, indagando se havia limitações físicas, como má formação do pênis, doenças cardiovasculares, distúrbios urológicos, endócrinos, diabetes, uso de drogas lícitas ou ilícitas e se tomava remédios de tarja preta, inclusive antidepressivos. A resposta foi negativa.
Como sou adepto da psicanálise integrativa, utilizei a livre associação de ideias, com foco na fase infantil e adolescente para detectar eventuais traumas, visto que desde as primeiras relações já se manifestavam tais limitações.
Como nada relevante foi detectado, foi feita regressão ao que se denomina de vidas passadas. O que emerge do inconsciente é real para a pessoa. Na vida que diz ter acessado era uma bebê órfã que foi acolhida num bordel.
Aos 6 anos já trabalhava servindo bebidas aos clientes. Aos 9 anos foi envolvida na prática sexual, embora não quisesse, sentindo medo, nojo, aversão, advindo daí seus bloqueios atuais.
Esse trauma, essa emoção negativa teria ficado registrada no seu inconsciente, dito perispiritual, ou, talvez, no seu inconsciente recalcado, na dicção de Freud.
O gatilho foi desativado com o desligamento daquela vida, que deixa de reverberar no hoje. Como sabemos, eliminada a causa, cessam os efeitos.
Ao iniciar a relação sexual, emergia dos arquivos do seu inconsciente aquela vivência traumática. O ego, com seu mecanismo de defesa, e objetivando evitar o sofrimento, as sensações desprazerosas e tensas provocava aquelas limitações, impotência ou ejaculação precoce, a fim de finalizar o ato o mais rápido possível.
Melhorou cerca de 90%, conforme relatou. Como se trata de um “set” terapêutico e não filosófico, o que interessa ao terapeuta é a cura. Seja influência de outra vida ou criação mental, o bloqueio estava dentro do paciente e precisa ser ressignificado.
Outro “case” foi o atendimento de uma mulher de cerca de 35 anos, homossexual, com biotipo masculinizado devido a excesso de academia. Teria, segundo ela, acessada uma vida em que era do sexo masculino e, ao desencarnar, foi acolhida por um ser extrafísico que havia sido seu pai em outra existência.
Décadas depois retornou. Seria a vida atual. Havia sido homem em várias existências e sempre abusava das mulheres por considerá-las objetos de prazer, meros enfeites, bibelôs, vendo-as como meros corpos, sem sentimento, sem autoestima, sem sonhos e amor próprio.
Seu pai havia dito que ele teria de passar por novas experiências e, claro, não disse quais seriam para evitar o risco de recusar a nova encarnação.
Sua programação de desapreço pelas mulheres era tão grande devido a reincidências específicas, em muitas vidas, que precisaria conhecer o outro lado da moeda nascendo, assim, do sexo feminino para tentar mudar seu “mindset”.
A ilusão dos rótulos das cascas causa muito preconceito e separatividade. Nós não somos, e, sim, estamos. Não sou branco, estou branco, porque minha epiderme veio clara desta vez. Não sou brasileiro, estou brasileiro, porque nasci no Brasil. Não sou homem, estou homem, porque nasci com o sexo masculino. Somos, na realidade, espíritos imortais, ocupando temporariamente um corpo físico. Somos energias conscienciais em constante e eterna expansão.
Ela se rebelou, não aceitando se relacionar afetivamente com o sexo masculino. O aprendizado programado para esta vida vai ficar para outra encarnação. Não quis tornar consciente o inconsciente, se conhecer e, possivelmente, mudar seu foco, seu comportamento. Preferiu abandonar a terapia.
Nem todos os “cases” são casos de sucesso.
De fato, há muito mais entre o céu e a terra do que sonha nossa vã filosofia...