
Mecanismos de Defesa da Psiquê Freudiana
Por Denise Maia
A segunda tópica freudiana estabeleceu as três instâncias virtuais fundamentais sobre a psique humana. As interações entre ID, EGO e SUPEREGO são as determinantes em relação as pulsões (libido) do ID, que se rege pelo Princípio do Prazer. E, essas pulsões (destrutivas ou construtivas) fortemente catexizadas irão ser descarregadas, recalcadas, satisfeitas integralmente ou parcialmente no mundo interior em consequentemente no mundo exterior e, portanto vão determinar como o sujeito vai se comportar ao longo de sua vida.
A “permissões” ou “sanções” do SUPEREGO (construído pelas regras morais mantidas sob traços mnêmicos) irão afetar o EGO - regido pelo Princípio da Realidade - que terá de buscar uma solução satisfatória equacionando as pulsões do ID. Essa solução poderá ser consciente ou inconsciente, e dependendo da quantidade de energia catexizada, gera tensões e assim, os conflitos entre esta tríade conforme a Teoria das Personalidades, dando origem, ao que Freud definiu como as neuroses, psicoses e perversões. Que formam um sistema de “ajuda ou solução” para tolerar o desprazer das impossibilidades das satisfações do ID.
Os Mecanismos de Defesa do EGO tem a finalidade de reduzir as tensões psíquicas, evitando o colapso intra e inter da tríade. Aliviando os sentimentos de ansiedade ou culpa associados a pensamentos dolorosos ou indesejáveis.
São nove (e não oito como consta no Blog, no artigo de Maria de Lourdes Andrade, que não destaca a Repressão) Mecanismos ditos mais comuns. Que, na verdade foram destacados por Anna Freud, ampliando seus estudos a partir do livro de seu pai sobre o assunto. Deve-se considerar como defesas, não apenas como uma medida de proteção do inconsciente para impedi-lo de se conectar com os desejos caóticos instintivos do ID. E que também irão protegê-lo da ansiedade de enfrentar suas fraquezas.
1 – Negação: quando a pessoa não admite alguma realidade total ou parcial. Exemplo de quem bebe excessivamente todo final de semana argumentando que só bebe aos finais de semana. O caso de negação de doenças graves como o câncer, muitas vezes, o seu tratamento é negligenciado, pelo processo de negação da gravidade do problema. Simplesmente a pessoa não volta no médico para iniciar o tratamento.
2 – Repressão (recalque): o que na mente nos é desconfortável é colocado no inconsciente numa tentativa de esquecer, isolar, não ter contato. Pode ser um esquecimento temporário ou mesmo uma amnesia – um nível mais profundo. Memórias reprimidas são cumulativas portanto vão aparecer sob forma de ansiedades e comportamentos disfuncionais. Reaparecem em sonhos (repouso do EGO) do inconsciente e também são detectados a exemplos dos lapsos e chistes. A repressão é inconsciente, quando é consciente e deliberada é chamada de supressão. Temos como exemplos simples um medo aterrorizante de ratos mas a pessoa não lembra a primeira vez que sentiu esse pavor, ou esquecer a hora do dentista.
3 – Regressão: trata-se de um retorno a algum estágio emocional da infância onde se desenvolveu a etapa psicossexual oral, anal e fálico, quando as estruturas básicas da personalidade são fixadas. Em certas condições de tensão a pessoa volta a um destes estágios. O retorno a um estado infantil de dependência, não falar com pessoas que te deixaram triste ou fizeram mal são um destes estágios.
4 – Deslocamento: é o redirecionamento de ações de um alvo desejado para um outro substituto quando há alguma impossibilidade de se ter esse primeiro alvo. Pode-se manter a mesma ação apenas redirecionando para outro alvo ou muda-se a ação. Como exemplo clássico temos o caso do funcionário que foi maltratado pelo chefe. E ao chegar em casa o funcionário maltrata a esposa, esta maltrata o filho e este chuta o cachorro ou destrói alguns brinquedos – houve o deslocamento da raiva para outros substitutos. O EGO descarrega a energia do ID com a qual ele não pode lidar no momento devido as repressões do SUPEREGO. Trata-se de deslocar a raiva para outra pessoa. O importante seria analisar a fonte original dessa raiva direcionada ao substituto.
5 - Projeção: uma pessoa que perceba em si um sentimento/pensamento desagradável, seja por insegurança, medo, mas não consegue lidar com isso por ser uma dor psíquica, acaba atribuindo isso a outra pessoa, para aliviar ou mesmo retirar a carga emocional de si mesma. Como um “colocar a culpa no outro” ou seja, projeta a sua insegurança ou insatisfação ou raiva no outro. O exemplo da moça que se sente feia com um vestido, vai a festa e pensa que todos estão rindo dela. Em vez de reconhecer seus sentimentos de insegurança ela nega (inconscientemente) e acusa os amigos de estarem caçoando dela, condenando os amigos por esse sentimento de desprezo em relação a ela sem que perceba que ela mesma está com esse sentimento em relação a si mesma.
6 – Formação Reativa: trata-se de uma ocultação, consciente ou não, de um sentimento o qual a pessoa não pode lidar. Assim ela age de forma oposta ao seu sentimento interior no exterior. Sente um desejo de fazer ou dizer algo mas diz o oposto. Há uma defesa contra uma punição social temida então fujo para o lado oposto.
Se não pode aceitar sua homossexualidade passa a ser um mulherengo contumaz e homofóbico; se não gosta de alguma colega de trabalho trata-a amistosamente chegando a exageros, na tentativa de esconder sua hostilidade. Na verdade não se quer admitir sentimentos não aceitáveis moral ou socialmente. Objetos de cobiça passam a ser odiados face a impossibilidade de obtê-los. Ao nível inconsciente não percebe a verdadeira causa de seu comportamento.
Compensações exageradas são chamadas de “transbordamentos”. Padrões extremos são encontrados na paranoia e TOC, quando a pessoa fica presa e ciclo de repetição de comportamento mesmo tendo consciência de que não é certo.
7 – Intelectualização: No intuito de neutralizar sentimentos de ansiedade, raiva, insegurança ou mesmo como forma de se livrar de situações embaraçosas, todos usamos mecanismos de defesa.
Na intelectualização, afastamos uma reação emotiva/sentimental evitando o sofrimento e passamos a racionalizar procurando o lado “bom da coisa, como se fala, fazer do limão a limonada”. Não há negação do evento que originou a dor psíquica. Evita-se pensar em consequências emocionais, usando a praticidade nas ações. Há uma “fuga para a razão” concentrando-se me fatos e lógica. A lida com o problema tem uma base racional onde se ignora ou menospreza-se os aspectos emocionais ou os considera irrelevantes. É o chamado “isolamento de afetos”. É uma análise consciente de uma maneira que não provoca ansiedade, usando de frieza e lógica, atrofiando o sentimento que provoca a dor psíquica. O exemplo clássico é o do marido que abandonado pela esposa faz uma planilha de gastos que terá de arcar e de despesas que deixará de ter.
8 – Racionalização: Há fatos difíceis de aceitar então procuramos as razões lógicas para tal acontecimento afim de que se possa explica-lo. Há uma explicação plausível sobre um mau comportamento. Há um arrependimento ou remorso em relação a uma ação praticada pela pessoa. Culpa alguém por haver provocado em você a ação inadequada. Também é válido no caso de quando se trata de ação a que sofremos de de outra pessoa, como um amigo ser grosseiro conosco. Assim também encontramos razão que sustentam nossas crenças, modelos e valores de nossas estruturas internas.
O ID envia seu impulso e o EGO age, depois vem o SUPEREGO e repreende o EGO que se defendo por argumentos que tornam sua ação aceitável para o SUPEREGO. Assim fazemos algo em desacordo com os valores aceitáveis e justificamos isso para não sentir culpa. Assim, burlamos o Imposto de Renda dizendo que o Leão é por demais perverso e o governo rouba os impostos em benefício próprio!
Há uma tentativa de se explicar o que acontece mantendo-se uma coerência entre ações e pensamentos. O homem que bate em mulher acusa-a de merecimento pela punição e a vítima muitas vezes também pensa assim, uma vez que nossa necessidade de estima nos leva a racionalizar ações dos outros. A atitude de autoconveniência no uso da racionalização se dá quando a pessoa colher louros a mais do que merece sobre sucesso alcançado culpando a outros por falhas ocorridas. O estudante que não é aprovado para faculdade diz que na verdade não queria ir para lá – como na fábula de La Fontaine, quando a raposa despreza as uvas que não consegue alcançar para comê-las e diz que estão verdes.
9 – Sublimação: Pulsões do ID chegam a consciência onde percebemos que são são desejáveis. Essa energia psíquica deve ser direcionada para algo socialmente aceitável, então transformamos esse impulso em algo menos prejucial. Atividades esportivas são muito eficazes nessa drenagem de energia como a exemplo dos boxeadores e praticantes de lutas livres. Cirurgiões usam o corte do bisturi para salvar vidas.
A que se ter atenção nas atividades esportivas ditas radicais onde há o limite da morte. Caso a ser estudado como no artigo Psicologia: Reflexão e Crítica, 2005, 18(1), pp.26-38 Da Exacerbação dos Sentidos no Encontro com a Natureza: Contrastando Esportes Radicais e Turismo de Aventura.
1 – site Psicoativo
2 – youtube Série Descobertas Freudianas
3 – Blog do curso psicanáliseclínica.com