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Pulsões e Libido na Teoria Freudiana

Por Denise Maia

Após publicação dos trabalhos sobre a Teoria da Libido em “As Pulsões e seus Destinos” e “Além do Princípio do Prazer” (1915-1926). Na sua primeira fase, Freud dividiu as pulsões entre Pulsões do Ego – voltadas para a preservação do indivíduo e Pulsões Sexuais, voltada para a preservação da espécie. Freud desenvolveu a segunda teoria como Pulsão de Morte – que consiste na descatexização, inanição, diminuição da excitação; e a Pulsão de Vida que busca o investimento e a unificação.

Ainda hoje o termo pulsão tem sido usado por vários autores indistintamente devido as palavras em alemão “trieb” e “ instinkt” traduzidas como pulsão e instinto e usadas a bel prazer gerando algumas confusões entre leigos, tradutores e psicanalistas.

Em sua obra “Os Instintos e suas Vicissitudes” (1915), Freud discorre sobre o conceito de pulsão, e trata de diferenciar a pulsão de um estímulo.

 

Estímulos fisiológicos surgem do mundo exterior. Os estímulos pulsionais são sempre de natureza interna, e impossibilitam a fuga do indivíduo no sentido de que não se foge da própria mente. As excitações externas a que o indivíduo pode fugir ou proteger-se, no sentido de que podem ser dominadas por ações simples. Das fontes internas portadoras constantes de um afluxo de excitação, a que o organismo não pode escapar, e que é o fator propulsor do funcionamento do aparelho psíquico.

 

O estímulo pulsional é constante, nunca isolado ou momentâneo e exerce sempre uma pressão. É uma força energética dinâmica que demanda uma necessidade (desejo) que precisa ser sanada para sua satisfação e requer grande trabalho para ser administrado pelo sistema nervoso; que é o responsável para reduzir as pulsões para um nível mais saudável e mais próximo do prazer e satisfação da fonte interna de estimulação da psique do indivíduo. Portanto os estímulos pulsionais são processos contínuos e complexos dos quais o aparelho psíquico não pode evitar ou deter. Obrigam o sistema nervoso a renunciar à intenção ideal de afastar esses estímulos porque estes mantem um fluxo incessante e inevitável de estimulação.

São suas características: Fonte – área do corpo que determina a origem do estímulo pulsional. Pressão – fator motor que exige atividade do psiquismo. Finalidade - é sua meta a que deve ser satisfeita; que embora seja imutável, pode seguir por vários caminhos como metas intermediárias convergindo para o mesmo fim. Objeto – externo ou mesmo o próprio corpo do indivíduo, é o que se adequa à satisfação podendo variar bastante, ser substituído ou pode ser único satisfazendo pulsões de finalidades distintas. Assim o percurso da pulsão se dá na origem dos estímulos pulsionais vindos de várias fontes e chegam à psique gerando acúmulo de energia que causam pressão incômoda e por isso precisa ser descarregada da melhor forma para atingir a finalidade do prazer e satisfação. Há a busca de um objeto representado por imagens ou afetos para alcançar sua meta.

 

Durante o processo de satisfação, a pulsão pode sofrer uma reversão de conteúdo e sua finalidade deixa de ser ativa e passa a ser passiva. Ou seja, pode reverter-se para a própria pessoa, como Freud aborda na relação sadismo e masoquismo com os seus estudos da Teoria da Pulsão de Morte ensejou estudos sobre agressividade, sadismo e masoquismo.

 

Há portanto uma distinção entre a fonte da pulsão e o estímulo, sendo este último produzido fora do organismo e a fonte da pulsão dentro do próprio organismo.

 

Freud (1905) acreditava que todas as pulsões levavam ao movimento, e conceitua a pulsão sexual e atribui à sua energia o nome de libido. Também faz menção a pulsões "de fome", que, em contrapartida, se relacionariam à necessidade de nutrição. Em “O Pequeno Hans” (1909), considerou a pulsão agressiva distinta da sexual e da de autopreservação. Mas acabou considerando que cada pulsão teria o poder de se tornar agressiva.

Na medida em que a pulsão sexual representa uma força que exerce uma “pressão”, a libido é definida por Freud como energia dessa pulsão. É esse aspecto quantitativo que vai prevalecer no que se tornará, a partir da concepção do narcisismo e de uma libido do ego, “a teoria da libido”.

Para Freud não apenas o alvo da pulsão é a satisfação, ela já foi obtida um dia, na pré-história individual. A busca da satisfação vai reeditar aquela satisfação já obtida. Cada objeto apropriado pela pulsão revela que não é através dele que ela encontrará satisfação, embora uma satisfação parcial seja obtida. Isso ocorre pelo princípio do prazer e, frente ao impossível da satisfação da pulsão, o aparato psíquico responde com o possível do prazer obtido com os objetos.

A atividade do aparelho mental regido pelo princípio do prazer e está regulada por sentimentos de prazer-desprazer, estímulos desagradáveis aumentam a quantidade dessa energia e o prazer faz a sua diminuição. A finalidade da pulsão é sempre a satisfação. Obtida eliminando o estado de estimulação na fonte e terão vários para satisfazê-los podendo ter alvos intercalados que se permutam alcançando satisfações parciais. A pulsão não está a serviço de nenhuma função biológica pois esta é marcada por um ritmo, por uma alternância, por uma possibilidade de satisfação através do estado de estimulação na fonte. Neste sentido Freud considerou que há satisfação plena e outra parcial – do alvo inibido. Como acontece com a sublimação e do recalque além de outros caminhos, vicissitudes, destinos, aventuras “alternativos” de satisfação parcial desta pulsão. Nessas vicissitudes podem ocorrem “erros” pois o caminho em direção ao alvo não é imediato nem reto mas passa pelo objeto, esbarra em censuras donde surgem as variedades de defesas contra essas mesmas pulsões. Mas a pulsão não pode ser destruída e sempre buscará a satisfação mesmo que parcial, assim Freud apresenta dois representantes psíquicos para a pulsão: a ideia e o afeto.

Os destinos do afeto, apresentados por Freud (carta a Flies, 1894), e distingue três mecanismos: Transformação do afeto (histeria de conversão); Deslocamento do afeto (ideias obsessivas) e Troca de afeto (neurose de angústia e melancolia). Considera o afeto como pura intensidade. Se liga originalmente a uma representação mas também pode se deslocar para outra sem ficar preso a uma delas.

No artigo sobre “Pulsões e Destinos de Pulsão”, Freud aponta quatro destinos para as pulsões sexuais, que trata dos destinos do representante ideativo: Transformação no contrário; retorno para a própria pessoa; recalcamento e a sublimação.

A Transformação no contrário e o Retorno para a Própria Pessoa: pelo objeto ou pelo conteúdo. Pelo objeto se dá pela inversão da atividade para a passividade - o par de opostos: sadismo-masoquismo e no voyerismo–exibicionismo. Quanto ao conteúdo é a transformação do amor em ódio. A intensidade é individual.

“A Transformação no Contrário ocorrem dois processos diferentes: uma mudança da atividade para a passividade e uma reversão de seu conteúdo: sadismo – masoquismo. A reversão afeta apenas as finalidades das pulsões. A finalidade ativa (torturar, olhar) é substituída pela finalidade passiva (ser torturado, ser olhado). A reversão do conteúdo encontra-se no exemplo isolado da transformação do amor em ódio”.

“O Retorno para a Própria Pessoa se torna plausível pela reflexão de que o masoquismo é, na realidade, o sadismo que retorna em direção ao próprio ego do indivíduo, e de que o exibicionismo abrange o olhar para o seu próprio corpo. A essência do processo é a mudança do objeto, ao passo que a finalidade permanece inalterada”.

“Uma vez ocorrida a transformação em masoquismo, a dor é muito apropriada para proporcionar uma finalidade masoquista passiva, pois temos todos os motivos para acreditar que sensações de dor, assim como outras sensações desagradáveis, beiram a excitação sexual e produzem uma condição agradável, em nome da qual o sujeito, experimentará de boa vontade o desprazer da dor.
Uma vez que sentir dor se transforme numa finalidade masoquista, a finalidade sádica de causar dor, também pode surgir, retrogressivamente, pois, enquanto essas dores estão sendo infligidas a outras pessoas, são fruídas masoquisticamente pelo sujeito através da identificação dele com o objeto sofredor. Não é a dor em si que é fruída, mas a excitação sexual concomitante” (citação original).

“Sentimentos de piedade também pode ser entendido como formação reativa de outros sentimentos”.

Na transformação do amor em ódio, os sentimentos dirigidos para o mesmo objeto (a mesma mãe que se ama, se odeia), essa coexistência é o exemplo de ambivalência de sentimento. Para Freud (1915), o amor não admite apenas um, mas três opostos: amar – odiar; amar – ser amado; amar – desinteresse ou indiferença.

Amar e ser amado corresponde a transformação da atividade em passividade. Essa situação é a de amar-se a si próprio, considerado como traço característico do narcisismo. Então, conforme o objeto ou o sujeito seja substituído por um estranho, o resultado é a finalidade ativa de amar ou a passiva de ser amado, sendo esta, o princípio do narcisismo.

Em 1910, em “A Concepção Psicanalítica da Perturbação Psicogênica da Visão”, a pulsão, chamada por ele de pulsão de fome, é efetivamente contraposta à pulsão sexual, e a ela é atribuída o status de pulsão de autopreservação ou pulsão do ego - "como disse o poeta, todos os instintos orgânicos que atuam em nossa mente podem ser classificados como 'fome' ou 'amor' (Freud, 1910).

Em sua Primeira Teoria Pulsional Freud (1915) acreditava que todas as pulsões consistiam em movimento psíquico, decorrentes de um quantum de energia que impelia o psiquismo à ação. Dividiu-as em pulsões de autopreservação com função de preservar existência do indivíduo, do ego. E as sexuais as quais buscam objetos com finalidade à preservação da espécie e satisfação sexual porque acreditava que estavam ligadas a autopreservação e portanto preservaria a vida. Essa divisão já era vista por Freud com uma utilidade parcial até novos estudos.

Na Segunda Teoria Pulsional “Em Além do Princípio do Prazer” (1920), Freud propõe uma nova dualidade na vida psíquica com duas forças opostas: uma energia que impele à ação e outra que leva à inanição.

As que levam à ação e são as pulsões sexuais e de autopreservação denominadas Pulsões de Vida e buscam os objetos de prazeres. As que levavam à estagnação, o novo conceito introduzido, foram denominadas de Pulsões de Morte. E buscariam a paz, a ausência, tendência e eliminar a estimulação no organismo. A pulsão tem o objetivo da descarga, a falta de vida, a falta do novo – a morte. Não há desejo de mudança, há busca sempre de estados anteriores. Uma busca do antigo por novos caminhos devido à pressão de forças perturbadoras externas – tortuosos caminhos (“detour”, desvios) para a morte.

A pulsão de vida precisa se opor à pulsão oposta encontrando formas de manter a vida se desviando da pulsão morte colocando parte para fora do organismo evitando assim a sua destruição interna, se apresentando exteriormente sob a forma de destruição (O Ego e o Id, 1923). A parte que permanece no ego poderia chegar à descarga por meio da fusão à pulsão de vida também como forma saudável de descarga em contrapartida às soluções que a pulsão de morte encontra quando “desfusionada”, com o surgimento o de neuroses graves.

A pulsão de morte “desfusionada” tem no superego um aliado, sendo a responsável pela dureza e crueldade exibida dessa instância e também por uma ação exagerada e excessivamente punidora voltada ao ego e pelo sentimento de culpa instalado no ego, fazendo o sujeito julgar-se merecedor de sofrimento.

Houve certa resistência de Freud da criança anterior aceitar a inata inclinação humana para a ruindade, a agressividade e a destrutividade, e também para a crueldade" (Freud, 1930).

Há uma questão sobre o que levou Freud a agrupar num mesmo conjunto as pulsões do ego e sexuais. Em seu trabalho “Além do Princípio do Prazer” (1920) ele agrupa as pulsões sexuais e do ego; mas em 1914 ele já tratava o assunto no trabalho “Sobre o Narcisismo: uma introdução”, observou que no narcisismo é a retirada do investimento do mundo externo para o eu – tratar o próprio corpo da mesma forma pela qual o corpo de um objeto sexual – como na teoria da Libido. Em função do ego agiam as pulsões de autopreservação e do mundo exterior agiam as pulsões objetais (sexuais). Pulsões objetais recolhidas do mundo externo e investidas a si mesmo; o leva a acreditar que ambas as pulsões são uma única energia a atuar na mente, considerando a existência de uma libido do ego que posteriormente é dirigida a objetos. Havendo um estado primário denominado NARCISISMO quando a libido sexual e do ego seriam uma única energia investida unicamente no próprio ego e a posteriori passaria a ter um investimento objetal quando então seria possível distingui-las.

Seria como que o próprio ego se achasse catexizado pela libido, e ele se constitui o reduto original dela, seu quartel-general. Essa libido narcísica se volta para os objetos, tornando-se assim libido objetal, e podendo transformar-se novamente em libido narcísica (Freud, 1930).

Mas, para Freud era insatisfatório explicar o conflito psíquico como conflito entre duas tendências da mesma pulsão. Apesar desta compreensão que mostra a possibilidade de agrupamento das pulsões, Freud mantém a distinção entre estas pulsões do ego e objetais. E defende que as pulsões, apesar de originárias de uma mesma energia, refletem bem a função dúplice que o indivíduo tem: de servir suas próprias finalidades e a outra de servir a algo maior, a preservação da espécie.

Um ano depois ele apresenta em “A pulsão e seus Destinos” (1920) esta sua teoria pulsional que passou a ser conhecida como Teoria da Libido.

Contrapondo-se a “Pulsão de Vida” surgiu a “Pulsão de Morte” com base no “Princípio da Inércia e da Constância”. 

Desde “Projeto para uma Psicologia Científica” Freud firma os pilares da pulsão de morte. Buscou na neurologia para explicar o funcionamento do aparelho mental, com a existência de um quantum que o circula e o movimenta e sua tendência para reduzir ou controlar esta quantidade (Q – quantidade de estímulos) a qual denominou de Princípio da Inércia e Constância. Há uma busca neural para livrar-se de uma quantidade inadequada, mantendo Q=zero buscando um equilíbrio interno e constante. Esta teoria com base neurológica evoluiu para a teoria do funcionamento do aparelho psíquico como mostra em “Além do Princípio do Prazer” (1920). Essa quantidade “Q” denominada como pulsão de movimento e a tendência em livrar-se dela como pulsão de morte ou de inanição.

Há a tendência do organismo a dominar os estímulos o que deu base para a construção posteriormente da compulsão a repetição, porque busca dominar as pulsões. Assim há duas tendências opostas do organismo: uma que busca diminuir a tensão e a energia proveniente das pulsões, e outra que trata de um fluxo constante de energia.

Então em “Além do Princípio do Prazer” (1920) Freud dá status de pulsão ao princípio da constância e seus processos. Em “A Pulsão e seus Destinos” (1915), expõe que o aparelho mental tende a dominar estímulos. Essa tendência foi considerada como fundamental do psiquismo “ o objetivo de toda vida é a morte” e que mudança e progresso são aparências enganadoras. O que explicaria a Compulsão à Repetição.

No seu trabalho “Em Recordar, Repetir e Elaborar” (1914), fala em recobrar os conteúdos reprimidos como recurso terapêutico para a cura, mas observa que há conteúdos que não podem ser recordados e vão surgir como uma atuação, serão repetidos em ações do indivíduo. Mesmo que essas repetições tragam sofrimentos e levem às patologias. Havendo uma “incoerência” no funcionamento mental na compulsão à repetição de conteúdos de sofrimento e patológicos, os desprazeirosos ou que é oposto ao que Freud postulou em “Formulações sobre os Dois Princípios do Funcionamento Mental” (1911) sobre a tendência da psique em evitar o desprazer, base do Princípio do Prazer.

Então, em “Além do Princípio do Prazer”, Freud (1920) fala do quanto isso o estava intrigando. O autor percebeu que, por vezes, ao invés de reduzir a carga de energia, como prezava o princípio do prazer, o psiquismo buscava o contrário: aumentar a carga, o que gerava desprazer. Freud entendeu que a tendência a repetir conteúdos desprazeirosos, e assim aumentar a carga psíquica, entrava em contradição com o princípio do prazer, mas passou a analisar e perceber que, na verdade, tratava-se de algo que, em seu fim maior, buscava realizar um trabalho para que o princípio do prazer pudesse vir a entrar em cena.

Em 1920 considera que conteúdos que vêm à tona nunca foram prazerosos, mas o que despertaria o desprazer seria o aumento do quantum de energia, assim o que o psiquismo quer é encontrar um caminho para “ domar “ esses conteúdos os quais tem uma excitação excessiva e portanto traumatizante. Há que se alcançar a constância, o equilíbrio mental, buscando níveis internos mais baixos de excitação evitando o enlouquecimento. Após conclui essa tarefa pelo psiquismo torna-se possível a ação do princípio do prazer. Isso explica o porquê os sonhos nas neuroses traumáticas trazem seus conteúdos desprazeirosos aumentando a carga da excitação em lugar de serem evitados. Isso se daria para que fossem revividos e assim o psiquismo domina a energia relacionada trazendo o equilíbrio. O sonho ajuda ao psiquismo a executar sua tarefa para então reger-se pelo princípio do prazer.

Freud considerou que a tendência do organismo à repetição se dá para que haja um vínculo psíquico a uma energia “solta” e então domá-la, transformando-a em fatos familiares e desse modo deixarão de ser traumatizantes. Assim é alcançado o equilíbrio e a constância pela repetição das situações anteriores como vivências já conhecidas e portanto seguras. A tendência do organismo na busca à inanição, ausência de excitação e morte, a favor de diminuir esforço para o equilíbrio e ausência de excitação; opõe-se à concepção das pulsões do ego e objetais que possuem movimento, investimento e catexia.

O Narcisismo - a situação de amar a si próprio: nas primeiras fases da formação mental o ego catexizados tem o caminho da pulsão direcionado para si mesmo alcançando a satisfação auto-erótica. O mundo externo não é catexizado portanto não interesse para a satisfação.

Nesta fase onde o amor é a relação do ego com suas fontes de prazer, o ego ama somente a si próprio e assim é indiferente ao mundo externo, reconhece seu amor – ódio, como o primeiro dos opostos no amor (Freud, 1915).

O Ego auto-erótico ao vivenciar consequências sofridas pelos instintivos de autopreservação desse mundo exterior, adquire objetos deste mundo e introjeta-os, constituindo-os fontes de prazer e expelindo o que for causa de desprazer. Na sua projeção ao mundo externo o reconhece como hostil (essa distinção interna e externa é subjetiva) como solução o ego transforma o real em ideal do prazer purificado. Esse novo arranjo faz coincidirem as duas polaridades: o sujeito do ego coincide com o prazer e o mundo externo com o desprazer. Esta é a fase objetal, a relação do prazer e desprazer entre o ego e os objetos. Os objetos fontes de sensações agradáveis são incorporados ao ego e é a atração exercida pelo objeto que proporciona prazer, assim dizemos que amamos esses objetos. No caso de sensações desagradáveis ocorrerá com intensidade variáveis a repulsão, a perseguição, a agressão, a destruição e o ódio a esses objetos. Sem levar em conta que podem gerar frustações das satisfações sexual ou das necessidades autopreservativas. É da luta do ego para preservar-se e manter-se que surge a relação de ódio portanto não se origina na vida sexual.

“um instinto (pulsão) “ama” o objeto no sentido do qual ele luta por propósitos de satisfação, mas dizer que um instinto (pulsão) “odeia” um objeto, nos parece estranho. Assim, tornamo-nos cônscios de que as atitudes de amor e ódio não podem ser utilizadas para as relações entre os instintos (pulsões) e seus objetos mas estão reservadas para as relações entre o ego total e os objetos” (Freud, 1915) (citação original).

“Não amamos os objetos que servem de autopreservação, necessitamos deles. O amor está mais na relação de prazer entre o ego e o objeto e se fixa a objetos sexuais no sentido mais estrito e aqueles que satisfazem as necessidades das pulsões sexuais sublimados” (citação original).

“O amor deriva da capacidade do ego de satisfazer auto-eroticamente alguns dos seus impulsos instintuais pela obtenção do prazer do órgão. É originalmente narcisista, passando então para objetos, que foram incorporados ao ego ampliado, e expressando os esforços motores do ego em direção a esses objetos como fontes de prazer. Torna-se intimamente vinculado à atividade dos instintos sexuais ulteriores e, quando estes são inteiramente sintetizados, coincide com o impulso sexual como um todo”. (Freud,1915) (citação original).

 

O ódio mesclado ao amor provém de fases preliminares do amor não inteiramente superadas. Por isso o amor, pode se manifestar como ambivalente, com os impulsos de ódio contra o mesmo objeto. A transformação do amar em ser amado é a relação entre a atuação da polaridade da atividade e da passividade.

Pulsões de vida e pulsões de morte apresentam-se sempre misturadas. Enquanto as pulsões de vida são numerosas e ruidosas, a pulsão de morte é invisível e silenciosa.

Finalmente em “ O Mal Estar na Cultura” (1930), Freud confirma autonomia da pulsão de morte, entendida como pulsão de destruição, concebida como “disposição pulsional autônoma, originária do ser humano”. Destrutividade e sexualidade passam a ser consideradas autônomas.

Este conceito concebe na teoria psicanalítica o caos pulsional oposto à ordem do psiquismo como contraponto ao princípio do prazer.

Até hoje a segunda teoria pulsional traz controvérsias na metapsicologia psicanalítica. Teóricos a reformularam e outros a rejeitaram.

 

Fontes de consulta:

1 – site P@psic - O desenvolvimento do conceito de pulsão de morte na obra de Freud.

2 - Introdução ao Conceito de Pulsão em Psicanálise – artigo de Andre Girola.

3 – FreudLacan Escola de Estudos Psicanalíticos – artigo: Circulação da Pulsão no Aparelho Psíquico.

4 - A pulsão - Glossário Freud - Christian Dunker - Falando daquilo 10.

5 - Circulação da pulsão no aparelho psíquico - Sônia Maria Perozzo Noll.

6 – site Psicoativo – artigo: Fases do desenvolvimento psicossexual.

7 – site Círculo Brasileiro de Psicanálise – artigo de Maria das Graças Araújo.

8 – site Scielo – artigo: resenha de livros – Narcisismos - João Ezequiel Grecco.

9 – site Psicologado – artigo: Introdução ao Conceito de Narcisismo.

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